“As redes sociais são para os jovens fábricas de sonhos inalcançáveis…”
Considero-me suspeito para rabiscar qualquer que seja a
coisa direccionada ao nosso excelentíssimo presidente, mesmo sabendo que ele nunca
vai ler. O facto é que sempre o admirei, sobretudo como empresário, aliás,
sonho um dia também sê-lo, pelo que o seu blogue pessoal faz parte dos
meus favoritos. Contudo, a leitura dos seus discursos, começou a ganhar
desprazer nos últimos anos, especificamente quando ele teria afirmado numa das
suas intervenções que as redes sociais são para os jovens fábricas
de sonhos inalcançáveis e de infinitas miragens e expectativas, podendo levar a
secundarização da cultura de trabalho, promovendo assim o espírito de mão
estendida. Curiosamente, mesmo desapontado com o discurso, não me
surpreendi, dado que teria acompanhado antes, afirmações do presidente com
características semelhantes, mas que na altura não vi mal nenhum neles, tendo
me esforçado em percebe-los.
De acordo com o site ABRN-Nacional, uma rede social é um
grupo de interesses que se articulam ao redor de um espaço e contribuem para a criação
e difusão de conhecimento. Dentre as várias redes sociais existentes
mundialmente, destaca-se o Facebook.
O Facebook é segundo o wikipedia, um site e serviço de
rede social, lançado em 2004, operado e de propriedade privada. Tido como a
maior rede social do mundo, o Facebook conta com cerca de 1 Bilhão de usuários activos,
estimando-se que diariamente haja registo de 316.455 novos cadastros. Dados
divulgados em 2006, indicavam que esta rede social gerava receitas cujas cotas
seriam de mais de 1,5 milhão de dólares por semana, provenientes de publicidade
e anúncios diversos. E conforme faz referência o Teknologic, um estagiário na
empresa desta rede social, ganha pelo menos cinco mil dólares (cerca de140 mil
meticais) por mês.
Existe
alguma empresa em Moçambique que paga ao menos ¼ desse valor aos estagiários?
Duvido, alias, as empresas neste país nem ser quer aceitam estagiários.
Estranho não é! Como diz o sociólogo Elísio Macamo, “estamos entregues”.
Entretanto, um dos temas com maior relevância nos
discursos políticos em Moçambique, é o insistente apelo ao empreendedorismo,
como forma de fazer face ao crescente desemprego que assola não só o nosso
país, mas o mundo inteiro.
Para além das vantagens e multifunções que as redes
sociais oferecem, pessoalmente penso que elas constituem uma prova clara do
empreendedorismo. Contudo, me espanto quando um dirigente na qualidade de
presidente de um país apologista deste mesmo empreendedorismo, declara guerra
contra o uso da criatividade e do saber pensar bem e diferente. De que
empreendedorismo ele estará se referindo?
O Facebook em particular, é uma daquelas coisas que
considero ligadas e próprias da modernidade, do mundo do saber inovar, de tal
forma que os seus benefícios reflectem a forma como as pessoas fazem o seu uso.
Naturalmente, a semelhança do que se passou com o Fundo do Desenvolvimento
Distrital, onde alguns administradores por desconhecimento (não sei), teriam
usado o dinheiro para reabilitar suas casas e adquirir viaturas novas e outros
bens, as redes sociais também não estão isentas de maus usos, até muito ainda
piores, sobretudo por se tratar de coisas ligadas a criatividade pessoal,
registando por isso muitas futilidades, inclusive perfis falsos usados para
práticas criminosas.
No caso particular de Moçambique, o mau uso que se
verifica nestas redes sociais, arisco a dizer que é por falta de domínio e de
conhecimento sobre as mesmas, pelo que, as pessoas estão lá apenas para “o inglês
ver”, razão pela qual até o portal do nosso governo tem Twitter e Facebook,
porém, para minha surpresa, não faz uso deles. Será pelo facto de Guebuza odiar
redes sociais? Se sim, porque lá estão?
Hoje em dia, as redes sociais para além de constituírem
uma plataforma para o exercício da criatividade e de alargamento do nosso
panorama de conhecimento e informação, elas têm servido como um elemento
importante para aprimorar as democracias modernas, acrescendo sobretudo a participação
política dos cidadãos na esfera pública. Lembro-me de que a morte do presidente
do Malawi, Bingu wa Mutharika, ocorrida no dia no dia 5 de Abril de 2011, teria
sido anunciada via Twitter. E recentemente acompanhei na Rádio e Televisão de
Portugal (RTP) que o presidente de um dos municípios em Portugal teria criado uma
página no Facebook, com vista a garantir maior diálogo com os seus munícipes.
Achei esta iniciativa super fantástica, e portanto devia
servir de exemplo aos nossos dirigentes, que podia por um lado revelar a importância
destas redes, e por outro, contribuir para desburocratização nas nossas instituições,
particularmente no que diz respeito as famosas audiências com os dirigentes
políticos (servidores do povo).
Portanto, é necessário que os dirigentes moçambicanos
entendam que as redes sociais são um fenómeno inevitável, constituindo por isso,
elementos próprios da evolução das sociedades, sendo que negar o seu uso por
parte da juventude implica bloquear a sua evolução particularmente no estado actual de globalização,
com o mundo conectando-se de forma muito rápida, onde apenas os mais equipados
de conhecimento e informação dominam e progridem. Ao invés reprimirmos as redes
sociais, devemos apadrinha-las procurando nos apropriar delas, para que
possamos nos beneficiar delas contribuindo para o nosso próprio desenvolvimento.