Empreendedorismo & Activismo Social

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Guebuzismo! (II)


“As redes sociais são para os jovens fábricas de sonhos inalcançáveis…”

Considero-me suspeito para rabiscar qualquer que seja a coisa direccionada ao nosso excelentíssimo presidente, mesmo sabendo que ele nunca vai ler. O facto é que sempre o admirei, sobretudo como empresário, aliás, sonho um dia também sê-lo, pelo que o seu blogue pessoal faz parte dos meus favoritos. Contudo, a leitura dos seus discursos, começou a ganhar desprazer nos últimos anos, especificamente quando ele teria afirmado numa das suas intervenções que as redes sociais são para os jovens fábricas de sonhos inalcançáveis e de infinitas miragens e expectativas, podendo levar a secundarização da cultura de trabalho, promovendo assim o espírito de mão estendida. Curiosamente, mesmo desapontado com o discurso, não me surpreendi, dado que teria acompanhado antes, afirmações do presidente com características semelhantes, mas que na altura não vi mal nenhum neles, tendo me esforçado em percebe-los.
De acordo com o site ABRN-Nacional, uma rede social é um grupo de interesses que se articulam ao redor de um espaço e contribuem para a criação e difusão de conhecimento. Dentre as várias redes sociais existentes mundialmente, destaca-se o Facebook.
O Facebook é segundo o wikipedia, um site e serviço de rede social, lançado em 2004, operado e de propriedade privada. Tido como a maior rede social do mundo, o Facebook conta com cerca de 1 Bilhão de usuários activos, estimando-se que diariamente haja registo de 316.455 novos cadastros. Dados divulgados em 2006, indicavam que esta rede social gerava receitas cujas cotas seriam de mais de 1,5 milhão de dólares por semana, provenientes de publicidade e anúncios diversos. E conforme faz referência o Teknologic, um estagiário na empresa desta rede social, ganha pelo menos cinco mil dólares (cerca de140 mil meticais) por mês.
Existe alguma empresa em Moçambique que paga ao menos ¼ desse valor aos estagiários? Duvido, alias, as empresas neste país nem ser quer aceitam estagiários. Estranho não é! Como diz o sociólogo Elísio Macamo, “estamos entregues”.
Entretanto, um dos temas com maior relevância nos discursos políticos em Moçambique, é o insistente apelo ao empreendedorismo, como forma de fazer face ao crescente desemprego que assola não só o nosso país, mas o mundo inteiro.
Para além das vantagens e multifunções que as redes sociais oferecem, pessoalmente penso que elas constituem uma prova clara do empreendedorismo. Contudo, me espanto quando um dirigente na qualidade de presidente de um país apologista deste mesmo empreendedorismo, declara guerra contra o uso da criatividade e do saber pensar bem e diferente. De que empreendedorismo ele estará se referindo?
O Facebook em particular, é uma daquelas coisas que considero ligadas e próprias da modernidade, do mundo do saber inovar, de tal forma que os seus benefícios reflectem a forma como as pessoas fazem o seu uso. Naturalmente, a semelhança do que se passou com o Fundo do Desenvolvimento Distrital, onde alguns administradores por desconhecimento (não sei), teriam usado o dinheiro para reabilitar suas casas e adquirir viaturas novas e outros bens, as redes sociais também não estão isentas de maus usos, até muito ainda piores, sobretudo por se tratar de coisas ligadas a criatividade pessoal, registando por isso muitas futilidades, inclusive perfis falsos usados para práticas criminosas.
No caso particular de Moçambique, o mau uso que se verifica nestas redes sociais, arisco a dizer que é por falta de domínio e de conhecimento sobre as mesmas, pelo que, as pessoas estão  apenas para “o inglês ver”, razão pela qual até o portal do nosso governo tem Twitter e Facebook, porém, para minha surpresa, não faz uso deles. Será pelo facto de Guebuza odiar redes sociais? Se sim, porque lá estão?
Hoje em dia, as redes sociais para além de constituírem uma plataforma para o exercício da criatividade e de alargamento do nosso panorama de conhecimento e informação, elas têm servido como um elemento importante para aprimorar as democracias modernas, acrescendo sobretudo a participação política dos cidadãos na esfera pública. Lembro-me de que a morte do presidente do Malawi, Bingu wa Mutharika, ocorrida no dia no dia 5 de Abril de 2011, teria sido anunciada via Twitter. E recentemente acompanhei na Rádio e Televisão de Portugal (RTP) que o presidente de um dos municípios em Portugal teria criado uma página no Facebook, com vista a garantir maior diálogo com os seus munícipes.
Achei esta iniciativa super fantástica, e portanto devia servir de exemplo aos nossos dirigentes, que podia por um lado revelar a importância destas redes, e por outro, contribuir para desburocratização nas nossas instituições, particularmente no que diz respeito as famosas audiências com os dirigentes políticos (servidores do povo).  
Portanto, é necessário que os dirigentes moçambicanos entendam que as redes sociais são um fenómeno inevitável, constituindo por isso, elementos próprios da evolução das sociedades, sendo que negar o seu uso por parte da juventude implica bloquear a sua evolução  particularmente no estado actual de globalização, com o mundo conectando-se de forma muito rápida, onde apenas os mais equipados de conhecimento e informação dominam e progridem. Ao invés reprimirmos as redes sociais, devemos apadrinha-las procurando nos apropriar delas, para que possamos nos beneficiar delas contribuindo para o nosso próprio desenvolvimento.