Empreendedorismo & Activismo Social

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Diário de um desempregado (II)


A tarde do dia de ontem foi brindada por uma chamada telefónica solicitando-me a uma entrevista numa das instituições de gestão privada por aqui na cidade das acácias (Maputo). Pés embora feliz por ter sido chamado, estava muito tenso e meio desorientado, afinal de contas tratava-se da minha primeira entrevista profissional. Não sabia direito o que me esperava, apenas imaginava alguém fazendo um frente a frente comigo interrogando-me como se de “prisioneiro” eu tratasse tal como acontecia na faculdade. Depois de consultar digitalmente algumas dicas sobre entrevistas de emprego liguei para um amigo pedindo ajuda, mas ainda continuava inquieto.
Muitas eram as questões que me vinham a cabeça! Desde a indumentária até a minha postura como pessoa. Ah! Disseram-me que devia me “vestir bem”. Nada de calças Jeans, camiseta, sapatilhas, porque aquilo era coisa séria. Esh! Mas, eu sempre me vesti assim, inclusive quando estava estudar. Será que a escola não era coisa séria? Contudo, se até alguns dos colegas da faculdade que tinham cabelos rastas, brincos e piercings, já haviam tirado tudo, quem era eu para fugir da regra, afinal de contas era “pegar ou largar”.
Senti me bastante ridículo, porém “que ia fazer” apenas devia me adaptar a aquela forma de vestir, que por sinal seria para sempre, sapatos, calças de pano, camisa lisa e com as fraldas dentro das próprias calças, “oh… que…!”.
Entretanto, para além de todo esse cenário confuso, tinha algo mais grave em tudo naquilo. Não tinha conhecimento das especificidades da vaga que me candidatara. Engraçado nem? Yah! A razão para tal é que enviara o curriculum vitae (CV) electronicamente e me esquecera de arquiva-lo, tendo posteriormente apagado. E para agravar a situação teria usado um correio electrónico sem definições para guardar mensagens enviadas. Estava realmente ferrado!
O momento para conversa com o entrevistador aproximava-se, contudo, nem mesmo as características do local e o tipo de trabalhos ali realizados foram suficientes para me lembrar da vaga para a qual me candidatara. Aquilo me deixava louco e cada vez mais tenso, mas não desisti, felizmente tenho a expressão “Never Give Up” na ponta da língua.   
Instantes depois estava lá eu e o entrevistador. A conversa não era tão técnica como imaginara, não passando de um simples diálogo de duas pessoas cujos interesses eram contrários. Por um lado, um, procurava conhecer o ser, o estar e acima de tudo e saber fazer do outro e na sequência, este fazia de tudo para ser e superar as expectativas daquele, por outro lado.
Bem! Prefiro nem detalhar, foi uma grande vergonha. Estava patético de mais pah. A cada pergunta feita mergulha em ditos e contraditos, ora metia os pés no lugar das mãos e vice-versa. Foi simplesmente decepcionante! Saí de lá completamente em baixo, com os meus 16 anos de carteira reduzidos a nada. Não conseguia perceber porque foi tão difícil responder questões tão simples quanto aquelas. Minha vontade após aquilo era de nunca mais estar a frente de um entrevistador, o que em outras palavras queria dizer desemprego vitalício, salvo se eu conseguisse “falar como homem” alimentando um desses cabritos amarados nessas instituições. Disseram-me que ligariam depois, mas eu sabia que não aconteceria! “Muita falta de sinceridade por parte desses tipos, tsk”!
Foi chato, no entanto a nível de aprendizagem valeu a pena, deu para tirar algumas lições, desde a minha organização até aos pequenos detalhes aparentemente insignificantes mas que no momento ditam as regras de jogo. Aprendi também que não vale a pena alindar o Curriculum Vitae de mentiras, pelo que pode ser extremamente constrangedor.
Entretanto, não importa o facto de ser novato nesta guerra, interessa sim a minha coragem, perseverança e acima de tudo atitude nisto tudo. Por tanto, de cabeça erguida sigo!   

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Ano da fé “2012/2013”


Nunca desistas!
Continue acreditando em ti, na vida e acima de tudo no senhor teu Deus.
                    
“Boa caminhada quaresmal” 


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Diário de um desempregado (I)


Já tenho aproximadamente um ano após ter terminado o ensino superior. Aquele dia tinha sido extraordinariamente fantástico. Depois que ingressei na Universidade, nunca tinha estado tão feliz como naquele dia, quando fiquei sabendo que me tornara licenciado. Que sonho! Eh, sonho mesmo. Alguém no passado me dissera que “aquilo” hoje “isto”, era coisa de gente rica! Kakakaka!!!
Não tirei lágrimas só porque acho que é coisa de fracos, mas também, digo graças a Deus por não o ter feito, pois me deixariam meio sem graça agora. Contudo, francamente falando, a emoção era tanta que por algum momento senti-me perfeito e “super man”.
Entretanto, se por um lado, aquele momento revela-se fascinante e profundamente alegre, por outro, marcava o início de uma longa e violenta guerra. E na sequência, nos dias que seguiram, o meu campo de acção foi se alargando de forma crescente, registando-se por consequência o meu fraco domínio pelo mesmo, agravado pelas enormes expectativas que fui alimentando durante a vida, sobretudo na minha formação superior que revelam-se por sua vez frustradas.
Nunca fui amigo do jornal. Eh! Esses tipos aqui me habituaram a contraditos e futilidades, e falta de transparência quando tratam de assuntos sérios sobretudo políticos. Porém, depois que me “formei” passei a me aproximar dele, não tanto para leitura integral, apenas procurando aquela página de anúncios sobre vagas de emprego e uma vez a outra quando me desse vontade atirava o olhar à actualidade internacional, única parte informativa nos jornais moçambicanos que aprecio, pés embora grosso da informação ali publicada seja copiada sem citação dos legítimos autores, com ou sem autorização, isso é que não sei dizer, mas já que estamos no país do “Pandza” deixemos para lá.
Porém, a verdade é que realmente as coisas por cá não estão nada boas. Dizem que não há emprego em Moçambique. Serio? Yah, não há emprego em Moçambique. Não será pelo curso? Não pah, não emprego em Moçambique. Não é verdade, é devido a tua cor de pele, sexo, teu estatuto social, religião, ou coisa parecida? Não man, não há emprego em Moçambique. Oh! Puf! Tsk! Mas será?
Sentado em frente a tela do meu personal computer (PC), derrepente uma chamada de um velho amigo que partilhava o mesmo sofrimento. Depois das nossas piadinhas esvaziadas, eis que ele me recomenda para procurar o jornal do dia, dando conta da existência de algumas vagas numa das instituições algures.
Hah! Zash! Eis aqui uma vaga para mim. Fogo! Que me***, dizem que o candidato deve ter pelo menos cinco anos de experiência, de preferência naquela área de trabalho.
Mas, mas, … eu nunca trabalhei! Eu sou recém-formado. Procuro meu primeiro emprego, depois de 16 anos consecutivos de carteira man! Entendes isso? 16 anos sentado na carteira ouvindo e seguindo ordens de professores, alguns bons, outros nem tanto, chatos e outros ainda corruptos. E tu vais me dizer que não tenho direito de emprego pelo facto de não ter trabalhado ainda! Ao me perceber e sentir que realmente as coisas por cá não estão nada simpáticas, começo a enlouquecer!
Afinal o que realmente os empregadores procuram? Eficácia e qualidade no trabalho ou apenas experiencia profissional? Será que aqueles que apresentam um perfil profissional mais rico curricularmente, detêm consigo também qualidade profissional? Não digo, nem sugiro que a experiência não sege requisito, porém não deve ser principal. Sou da opinião que os recrutadores disponham de ferramentas analíticas que possam avaliar o que o candidato está em altura de fazer no momento e não o que tenham feito anteriormente.   
Nem mesmo as instituições de formação técnica ensinam tudo o que os seus instruendos deverão fazer, o essencial aprende-se no local de trabalho, pois o mais importante é a capacidade do “indivíduo” em poder ser um bom profissional.  
Bem, retiro o que acabo de afirmar, estava nervoso, mas a verdade é que as coisas por cá não estão nada boas! Não  emprego em Moçambique. Até amanha diário.  

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Minha vizinha!


Fazia tempo que o cruzamento dos nossos olhares resultava em uma tempestade “não sei direito” dolorosa, porém ao mesmo tempo agradável. Nunca havíamos trocado palavras, até porque acabara de me mudar para aquele bairro e portanto tomado pela vergonha não me expunha para aquela gente que pouco conhecia.
E mesmo dominado pela timidez que me ofuscava por dentro, uma coisa eu tinha certeza. Queria falar e conhecer minha vizinha. Não era para menos. Ela era extraordinariamente linda, corpo de “viola” como por cá se diz, sorriso ardente e contagiante, e a cada vez que eu a via descalça, sacudindo o calor em pleno passeio da sua casa, imaginava ciumentamente aquela arte de mulher desfilando numa das passarelas de Milão.
Pés embora, a decepção amorosa que tivera anteriormente, ainda me restou espaço e paciência para me atrair por ela, que para além de atraente revela-se mais experiente e bem vivida, contudo, mesmo assim pretendia ao menos dizer para ela “oi? …”. E foi assim que em direcção ao portão da minha casa, vindo de mais uma batalha diária, de repente uma voz que parecia alguma vez ter sussurrado ao meu ouvido durante um sonho, diz: olá? Ganhei susto, não pelo tom da voz, até porque era tão suave, mas pela forte energia que a mesma transmitiu-me deixando-me completamente paralítico tendo respondido apenas – oi, …! Gostaria de ter falado mais alguma coisa, mas o seu olhar e sorriso acompanhados pelo perfume que apimentava o local, me roubaram as palavras. Se não fosse pelo grito de alguém que da minha casa chamava por mim, confesso que teria seguido em frente passando pelo portão de casa despercebidamente.
Durante aquela tarde, a palma da mão não me saia da testa. Pensativo e feliz pelo que acontecera, no entanto, sentia-me desafiado, devendo também lhe dizer “oi?” e naturalmente de forma diferente.
Nos dias que se seguiram, fui lhe saudando da mesma forma como ela fizera, talvez com alguma coisa a mais, mas sem nada digno de realce. Infelizmente, a vida dura que carrego vai me roendo pouco a pouco a memória. E portanto, já não me lembro direito, apenas sei dizer que “num dia”…mas, num dia…a nossa saudação levou mais tempo que o habitual e no tal curto tempo, consegui lhe “roubar” com sucesso um convite para passar a tarde comigo.
Eh! Fazia bastante tempo que não recebia uma visita do género, nem me lembro da última vez que tal teria acontecido, e por isso estava tenso! Encontrava-me no quarto quando ela bateu a porta, e suado de tanta tensão e ansiedade, na minha inexperiente cortesia a recebi com todo carinho.
No quarto, com cada palavra trocada ia ganhando mais coragem, mas ao mesmo tempo ficava claro que ela era efectivamente mais vivida, o que sem dúvida me deixa receoso.
Durante a conversa fui lhe falando desabafadamente da minha me*** de vida, e ela das suas aventuras e perspectivas para o futuro, o que nalgum momento me deixava ciumento, pois ficava com impressão de que ela era muito mais feliz que eu. Entretanto, com ela aprendi que “talvez” devia parar de pensar como adulto, passar tempo comigo mesmo e me conhecer melhor, de forma a conquistar não só uma vida de sucesso, mas acima de tudo repleta de felicidade. Ela reconheceu e elogiou (o que ninguém me fazia por muito tempo), a minha entrega e objectividade no trabalho, contudo, disse me que sonhava grande de mais. Para ela, sonhar era bom, mas pensar planejando de forma concreta era ainda melhor e sobretudo objectivo.  
Já tinha ouvido alguma vez o que ela me dissera, porém parecia primeira vez e prometi-lhe tirar um tempo na minha vida para colocar as ideias no lugar.
Era um momento fantástico, e fabulosa era também a pessoa com que partilhava, linda e deslumbrante como se seus pais tivessem encomendado um médico-arquitecto para cuidar da gravidez. Com ela aí, o mundo podia acabar, era como se tivesse atingido o cúmulo da minha felicidade. E der repente enganado pelo movimento extraordinário de seus lábios, sou assaltado por um beijo. Um beijo! Um beijo! Mas um beijo! Beijo longo, que a cada segundo ia apertando cada vez mais meu íntimo, com a paixão reduzindo crescentemente a razão do meu ser. Ela me abraçava, me apertava como ninguém me fizera antes, enxugando toda paixão que a atormentava após ter me visto pela primeira vez. Nos “poucos” instantes que a razão me chamava, era presenteado por uma peça de roupa caindo no chão. Cama solteira que ficava cada vez mais solteira por nunca ter visto mais ninguém por lá além de mim, naquele momento ajeitava e aconchegava nossos corpos juntos como Adão e Eva.  
… após aquilo, os nossos olhares depararam se como se de duas crianças se tratassem, esperando por um castigo depois de uma grande asneira. Ainda houve aperitivo de piadinhas, mas o mais  evidente, era a felicidade entre ambos. Mesmo na minha ingenuidade naquilo, tinha certeza de que pelo menos lhe fizera feliz naquele momento.
Com receio de estragar tudo “não sei”, ela despediu-se e disse: até mais Jorge. Curiosamente era primeira vez que pronunciava meu nome, mas foi fantástico, parecia mais bonito do que é. Hehehe! "Tirei lhe" do quarto e ela deu-me um beijo na bochecha e ainda disse bem no meu ouvido – fique bem.
Não podia lhe acompanhar até ao portão, afinal de contas era minha vizinha. Quando voltei ao quarto, o som da música não era o mesmo, o perfume do quarto também aparentava alterado, tinha tudo mudado, sobretudo em mim.
E na esperança de a partir daquele momento poder contar com mais alguém para partilhar os sabores e dissabores da minha vida, fui desesperadamente surpreendido com a notícia que dava conta que ela tinha viajado. Tsk! Fiquei sabendo também que ela apenas estava aí desfrutando os últimos dias de férias académicas, e com o início do ano lectivo regressara ao estrangeiro para terminar os estudos.
Não tendo me contando nada sobre aquilo, tudo que acontecera entre nós, começou a perder sentido. O homem que mudara em menos de 24 horas, tinha mergulhado de novo numa estranha e sem precedentes decepção. No entanto, racionalmente sentia me bem e reconhecia que um dia tinha me tornado feliz.
Na esperança de um dia revê-la, assinei na minha cabeceira – Minha vizinha.