Empreendedorismo & Activismo Social

quarta-feira, 13 de julho de 2016

“Não pense em crise, trabalhe”

Há Meses que venho tentando rabiscar qualquer coisa para alimentar a mente, mas simplesmente não consigo. O panorama social, económico e político em minha volta me entristece profundamente, e se eu insisto em escrever, por um lado, o resultado será pessimista e obviamente serei suspeito, e por outro, vejo que critica é o que há demais, no entanto, mais do que isso, neste preciso momento, a sociedade moçambicana precisa de uma outra abordagem de vida.  
Globalmente se assiste a uma crise financeira grave que até já levou a demissão de certos dirigentes políticos. A Venezuela por exemplo, vive hoje a maior inflação mundial, tendo levado uma forte pressão política, que teria terminado no Dezembro último com a conquista da maioria parlamentar por parte da oposição. Dentre as consequências da crise venezuelana, há a destacar o encerramento de fábricas, falta de medicamentos e de electricidade assim como de produtos de primeira necessidade como o pão. Ainda este ano, o presidente Nicolas Maduro, aumentou salário mínimo duas vezes, primeiro em 20% e depois em 30%. E como forma de racionar a energia eléctrica, primeiro determinou todas sextas-feiras feriados para o sector publico incluindo a educação, tendo depois alargado os feriados para quinta e quarta, ou seja hoje na Venezuela são dias úteis apenas segunda e terça feiras.
No leste europeu concretamente na Bielorrússia, devido a crescente desvalorização da moeda local, a crise económica atingiu níveis assustadores, tendo o presidente Alyaksandr Lukashenko, numa das suas intervenções apelado ao povo a trabalhar ate suar mas sem roupa, o que teria gerado uma certa piada nas redes sociais, onde vários cidadãos da Belarus, postavam fotos em vários sectores trabalhando nus. Na Cuba fala-se de um colapso económico.
No Brasil, regista-se uma deterioração económica por todos cantos. A desvalorização crescente da moeda local perante o dólar, obrigando a subida de preços e escassez de produtos de primeira necessidade. É neste contexto que o presidente interino Michel Temer no seu discurso de tomada de posse teria apelado ao povo brasileiro a uma nova forma de estar perante o actual cenário negro com a seguinte simples frase: “Não pense em crise, trabalhe”. É uma simples frase, mas com teor bastante significativo, pelo que imediatamente teria ganho espaço, tendo sido de seguida publicada em diversas cidades por meio outdoors.
Eu pessoalmente simpatizei-me com esta frase, pois vivo um cenário social, económico e político semelhante, talvez um pouco pior. Moçambique vive hoje uma crise económica grave, associada a uma inflação devido a desvalorização do Metical perante a moeda estrangeira particularmente o dólar e o rand, com efeitos directos na subida excessiva de preços de quase todos produtos, dado que o próprio país sobrevive quase na base de importações. Associado a isto, assiste-se a um cenário político tanto que vergonhoso. Falta de transparência na gestão pública com registos de altos índices de corrupção e crime organizado “impune”, para além do conflito armado que já leva barbas brancas entre os dois partidos beligerantes a FRELIMO (no poder) e a RENAMO (maior partido da oposição), cujas consequências são bem visíveis por quase todos quadrantes sociais.  
É verdade que o executivo actual tem uma grande responsabilidade no sentido de reverter o actual cenário, contudo se há anos não o faz, duvido que o faça agora, pelo que faço das palavras do Michel Temer minhas: “Não pense em crise, trabalhe”. Ou seja está na hora de o detentor legítimo de poder tomar a dianteira e mudar de atitude, começando pela nossa educação financeira.
O coeficiente de inteligência financeira da maioria da população moçambicana é ainda baixíssimo. Nem mesmo dispondo de significados recursos naturais, o país produz bastante pouco, o que obriga-nos importar quase de tudo, e para piorar o consumo é superior a produção nacional, o que a princípio é um sinal de fraqueza e grande vulnerabilidade económica. Talvez porque o orçamento geral do Estado ainda é em parte suportado por financiamentos externos, o desequilíbrio entre a produção e o consumo não se faz sentir.
Certa vez minha namorada zangou comigo, após ter pedido para pagar um par de calçado que um jovem vendedor passando de casa dela lhe teria “oferecido”. O motivo da zanga não foi necessariamente o facto de eu não ter respondido pronta e satisfatoriamente sua necessidade, mas sim, o lhe ter perguntando, se pretendia comprar o calçado porque realmente necessitava ou simplesmente porque gostara.
E este é ainda um grande problema para milhares de moçambicanos. “Somos simplesmente compradores de coisas”. E infelizmente na maioria das vezes, não compramos porque é realmente necessário, mas pela moda ou por influência. Numa das palestras o escritor brasileiro Gretz, questiona aos participantes o porque de comprar um fogão de seis bocas, se apenas usa duas bocas! E num tom de brincadeira, Gretz diz ainda, que há gente que gasta dinheiro que não tem, para comprar bens que não precisa, para mostrar gente não gosta.
E o mais engraçado nos bens materiais, é que seu valor é apenas significativo ainda na montra, pois de fora o seu valor depende de quem vê.
Quanto vale uma tonelada de diamante no fundo do oceano? Simplesmente, nada.
Contenção de custos não implica necessariamente, não usar seu dinheiro. É igual ao jejum, que não quer dizer privar-se de alimento durante certo tempo reservando e acumulando para consumir depois. Jejum seria consumir menos do habitual e doar o excedente para aquele que não tem (ou seja, se consumem dois pães durante o pequeno almoço, comem um e outro dê aquém não sabe o que é mata-bicho).
Que cada um olhe para seu quarto, sua casa ou quintal, quantos bens tem, adquiridos com muito desejo, mas hoje relegados inutilidade sem que tenham servido o seu real propósito. Porque?
Em suma que, antes de exigirmos aos nossos dirigentes políticos maior responsabilização que sejamos nós 100/% responsáveis por cada acção nossa. Acredito eu, que se pararmos de pensar em crise a optarmos simplesmente por agirmos no sentido ultrapassarmos, há uma probabilidade da mesma se tornar em uma oportunidade para aprendermos e aprimorarmos nossas capacidades em gestão financeira.