Empreendedorismo & Activismo Social

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Carta à Deus pai todo-poderoso!

Editada (publicação: Clube dos Pequenos Escritores 02/10/2011)

…pai, não sei mesmo por onde começar, apenas certeza tenho de que que muitas são as inquietações que por dentro me afligem. Diferentemente, dos meus encontros diários consigo, em que geralmente lhe peço perdão pelos meus erros, força e protecção para mim e para minha família, desta vez decidi fazer algo talvez “anormal”, lhe reportar um pouco daquilo que estou a viver aqui na terra e por que não, pedir algumas explicações acerca “desta vida”. Estou ciente das consequências que isto pode me causar, pois, a sagrada bíblia diz que não podemos duvidar de Deus, nem questionar seus feitos, mas porque esta pequena carta, não é necessariamente sinónima de dúvida para com a sua pessoa, vou lhe então pedir algumas explicações sobre a nossa vida neste planeta denominado “terra”.
Passam hoje dois mil anos e alguma coisa, após o senhor ter enviado seu filho Jesus Cristo, com a missão de vir nos salvar. Missão comprida ou não, a verdade é que segundo a bíblia, ele sofreu e morreu por nós. A partida dele aos céus, por um lado criou muita dor e sofrimento, mas por outro, deixou um grande legado para os homens - os ensinamentos sobre o caminho da verdade e da vida, que de acordo com a sagrada escritura, nos levariam a salvação eterna.
Contudo, passado algum tempo e até ao presente momento, assistiu-se a construção de uma humanidade perigosa, imbuída de egoísmo e de muita futilidade. Uma humanidade de seres com prazer de criar sofrimento a outrem.
E se a bíblia defende que o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus, e que todos os homens são iguais, porque é que há diferentes raças nos humanos? Porque alguns se acham mais importantes que outros? Até porque, determinadas cores de pele são associadas ao sofrimento, a pobreza, a fraqueza, ao desconhecimento, enfim, a toda indignidade e obscenidade que a ninguém merecem.
Como é que um humano como eu, de carne e osso, alma e espírito, vai me impor sua forma de vida, dizendo que é o protótipo a seguir? 

No meu entender, Deus criou o mundo e repartiu-o dando a cada um, de acordo com a “maldita” cor de pele o que merecia. Mas, aqui neste planeta, há quem se acha superior a todos, que se hoje decidir que o meu maravilhoso povo moçambicano, que enganosamente pensa que é soberano, deve sumir do mapa, em menos de horas, isto se efectiva. E mais engraçado meu Deus, é que estes indivíduos, dia pós dia, engajam-se aparentemente lutando pelo bem da humanidade, apresentado belíssimos projectos para educação, saúde, etc, mas em contrapartida, as doenças e os problemas que afectam os povos pobres nunca encontram solução.
É incrível que em algumas sociedades, quando alguém tem bens em abundância, se for funcionário estatal é chamado de corrupto, e se for empresário particular é traficante de drogas ou de órgãos humanos…será que ninguém pode enriquecer por um trabalho?
Oh Deus, é este o mundo que pretendia construir? De dominadores e dominados? De extrema desconfiança entre os seus seres? De serpentes maliciosas fingidas de heróis? Não será este um projecto falhado?
Se o caminho da verdade e da vida, está em nós memos, porque é que cada dia que passa, o mundo vai sendo poluído por "profetas" de diferentes confissões religiosas, mas que se dizem defender o mesmo fim - a salvação humana!
Neste momento que lhe escrevo esta carta, me encontro incerto de tudo e de todos, o perigo me rodeia por tudo que é lado e canto, desde a criminalidade, efemeridades, desastres humanos e naturais, entre muitas outras maldades que nem sei explicar. A incerteza vem até a mim, não só pelo perigo que minha vida corre a cada segundo que respiro, mas também porque, aqui na terra, apenas os mais fortes é que aparentemente se dão bem. Não imagina Deus, o número de suicídios pelo mundo inteiro… de pessoas que optam em tirar suas próprias vidas, por razões que só eles sabem, mas que com certeza não é por algo bom.
Já que a vida na terra, é significado de competição,… acho melhor parar por aqui, alias, pelo tempo que me dediquei lhe escrevendo, a carruagem já vai me deixando, para um destino que francamente o desconheço, apenas ciente de que um dia vou morrer. E dado que um dia deixarei este lugar definitivamente, as outras tantas questões que me apertam o peito e me dão insónia diariamente, irei lhe apresentar no dia do meu julgamento final.
…sem mais a acrescer, até breve meu pai todo-poderoso. Do seu filho “amado” Jorge Ofice.