Antes de mais, tenho a afirmar que o título não é da
minha autoria, copiei-o de um comentário no facebook sobre as últimas eleições
autárquicas.
Dois são os motivos por detrás da escolha deste título.
Pés embora a actual tensão política e militar associada as ameaças do partido
RENAMO em boicotar o processo eleitoral tendo por isso optado em não fazer
parte, assistimos em todas as 53 autarquias a realização das quartas eleições,
incluindo em Gorongoza, município que é parte da região palco de confrontos
militares entre as Forças Armadas de Moçambique (FADM) e os antigos guerrilheiros
da RENAMO, - primeiro motivo. Teoricamente, entendia-se que o sistema político
desenhado com a aprovação constituição multipartidária de 1990, favorecia
apenas aos dois maiores partidos (FRELIMO e RENAMO) deixando os demais numa posição
marginal, pelo que com a não participação da RENAMO nestas eleições autárquicas,
esperava-se maior espaço de acção e domínio da FRELIMO. Não obstante, ainda que
preliminares, os resultados revelam um relativo “equilíbrio” na maioria dos
municípios opondo principalmente a FRELIMO e o MDM (Movimento Democrático de
Moçambique) – segundo motivo.
Tudo indica que o partido FRELIMO poderá gerir nos
próximos cinco anos, 51 municípios do total de 53, no entanto, o MDM surge como
o grande vencedor, que participando pela primeira vez nas eleições autárquicas
a nível nacional, consegue se impor como um forte candidato a gestão destas
mesmas autarquias, tendo não só se aproveitado da ausência da RENAMO, mas
sobretudo se beneficiado de parte do eleitorado anteriormente pró FRELIMO, pelo
menos se analisados os dados eleitorais desta competição em comparação com
anteriores escrutínios eleitorais.
E independentemente do nível de participação eleitoral
registado, pode se dizer que o crescimento eleitoral do MDM, abre uma nova e
diferente página na jovem democracia moçambicana. Arisco ainda afirmar que o
voto atribuído ao Movimento Democrático de Moçambique é relativamente de
qualidade que o da FRELIMO, partindo da concepção que defende escolha eleitoral
como resultado de uma prévia avaliação do eleitor que por sua vez determina “o castigo”
ou “o prémio” ao candidato, assim como também tendo em conta a perspectiva
sociológica do voto que sempre determinou as escolhas eleitorais em Moçambique.
Naturalmente, o processo não esteve isento de
problemas, com registo de irregularidades desde o próprio recenseamento
eleitoral até respectiva votação. Entretanto, penso "eu" que sejam dificuldades "normais" de qualquer que seja processo competitivo, ainda mais se considerarmos as grandes deficiências institucionais que caracterizam o sistema político moçambicano. E dentre
os aspectos negativos, há sim que destacar tristemente a violência verificada
em algumas autarquias, durante as campanhas eleitorais e no dia da votação, em
parte causada pela má actuação da Polícia da República de Moçambique (PRM), que
mais uma vez revelou estar a serviço do governo do dia em detrimento da protecção
e segurança pública, abrindo por isso espaço para intolerância política.
Para terminar, farei das minhas as palavras de algumas
figuras da FRELIMO, que transformam seus habituais discursos de vitórias esmagadoras, retumbantes e convincentes
por elogios cínicos ao partido MDM. Eu particularmente dou parabéns ao Movimento
Democrático de Moçambique, por um lado pelo facto de ser apenas um partido
político e não militar e por outro, pela coragem, força e acima de tudo pelo
espírito de esperança que tem depositado na sociedade sobre o futuro da
democracia moçambicana, razão pela qual considero o crescimento eleitoral do
MDM não apenas vitória do partido, mas do povo moçambicano que passa a contar
com mais uma arma política na luta contra a hegemonia partidária. Viva
democracia em Moçambique!