O dia 31de Outubro de 2013 ficará para sempre marcado na
vida dos moçambicanos. Neste dia realizou-se em Maputo e em algumas capitais
provinciais, uma extraordinária manifestação já mais vista não só em Moçambique,
mas a nível do continente africano. Com objectivo de por um lado, revelar o
consensual descontentamento popular pela actual tensão política militar e onda
de raptos no país e por outro, de criar pressão ao actual executivo e aos
principais actores políticos a tomarem decisões com vista a resolver a triste situação
que se vive, que já está semear terror, incerteza e perdas humanas, para além
de danos materiais incalculáveis.
Movimentando em Maputo cerca de 30 mil participantes, maioritariamente
membros de organizações da sociedade civil, religiosos e activistas sociais, esta
manifestação marca não apenas o exercício de um direito constitucionalmente salvaguardado
(Artigo 51 da Constituição da República, 2004), mas sobretudo o ponto mais alto
de uma acção cívica democrática já mais registada em Moçambique.
Infelizmente alguns actores políticos, enganosamente
encaram a democracia como sendo apenas a realização de eleições multipartidárias
e periódicas, pelo que confundem manifestação pacífica com actos de violência e
de vandalismo, tendo por isso, o partido FRELIMO, através do seu porta-voz, um
dia antes desencorajado a realização deste inédito e maravilhoso acto democrático.
E independentemente dos resultados alcançados, para mim, o povo moçambicano
conhecido no passado pelo seu pacifismo e medo, acresceu mais um dado a sua
cultura cívica e política, factores importantes para o desenvolvimento de uma
verdadeira democracia.
Com este dado, sinto-me ainda feliz não só pelo nível de organização
que caracterizou a manifestação, mas também pelo facto de já no meu último
artigo, ter apelado uma acção popular bastante séria quando dizia: “…é
chegada a hora de alguma reacção por parte do legítimo detentor do poder, o
povo. Toda gente fala, mas faz absolutamente nada. Se realmente somos
democráticos ou ao menos pretendemos ser, temos que agir, caso contrário o poço
da miséria vai se aprofundar. Usemos e abusemos de todos meios legais que dispomos
para exigirmos o que é digno de homens: Paz e Tranquilidade. Não deixemos que egoísmo
e teimosia de algumas pessoas dêem rumo infeliz as nossas vidas”.
Encheu-me também de contente, presenciar actos de manifestação
por meio das redes sociais, emails, blogues, que mais uma vez provaram o exercício
de mais um direito consagrado na nossa constituição (artigo 48).
E infelizmente, o cenário negro ainda continua, com
registos de ataques e confrontos diários na região centro do país envolvendo as
Forças Armadas de Moçambique e supostos homens armados da RENAMO, para além da
continuidade da onda dos raptos em Maputo. Contudo, espero que o actual fenómeno
seja apenas uma tempestade e um obstáculo a ser ultrapassado com vista a tornar
a PAZ moçambicana cada vez mais forte e estável. Espero ainda que a manifestação
realizada na passada quinta feira, marque o início de acções cívicas e políticas
como forma de salvar a jovem democracia moçambicana ameaçada pela hegemonia partidária
da FRELIMO.