Empreendedorismo & Activismo Social

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Um Pensamento, Um Autor!


Thomas Tobbes

Nasceu em 1558, (Sec. XVI) na Inglaterra. Politicamente, vigorava naquele país um regime absolutista (concertação de poder nas mãos do monarca), com então rei Carlos – I, que teria sido aluno de Hobbes. No entanto, instala-se uma profunda crise na Inglaterra que leva a decapitação do rei Carlos – I e sucessivamente o declínio da Monarquia.
É na sequência deste cenário que Hobbes escreve a obra “Leviatã”, (monstro ou cobra de sete cabeças) defendendo a ilegitimidade da morte do rei, na medida em que para ele, o monarca devia governar assim como “monstro” de forma a garantir segurança e equilíbrio do Estado.
Leviatã
Hobbes, começa por afirmar que a natureza faz dos homens tão iguais, quanto as faculdades de corpo e de espírito, que embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte ou de espírito mais vivo do que outro, a diferença entre um e outro não é suficientemente considerável para que qualquer um possa reclamar qualquer benefício a que outro não possa igualmente aspirar.
O homem é egoísta, supondo que possui em maior grau a sabedoria que os outros. A natureza dos homens é tal que embora sejam capazes de reconhecer em muitos outros maior inteligência, maior eloquência ou maior saber, dificilmente acreditam que haja muitos tão sábios como eles próprios, pois vêem a sua própria sabedoria bem mais perto e as dos outros à distância. E isto tudo mostra acima de tudo, o quanto os homens são efectivamente iguais, pelo que a diferença está apenas na concepção, (na maneira de ver as coisas), o que ele chama de igualdade/ desconfiança.
Da igualdade em termos de capacidade, deriva a igualdade de atingir seus fins (esperança). Daí que se dois homens desejam a mesma coisa que não pode ser gozada por ambos, os dois tornam-se inimigos. E na procura da preservação da vida, que é o fim último de cada homem, esforçam-se para se destruir um ao outro. O que explica por sua vez, que se um homem tem sucesso no seu trabalho, é de esperar que os outros o venham ameaçar, privando-o da vida ou da liberdade. E em seguida os invasores se encontrão também na mesma situação em relação aos outros.
Hobbes, faz uma grande ruptura com a concepção aristotélica segundo a qual o Homem é Um Animal Político, ou seja, foi feito para viver em sociedade, ele não basta-se a si próprio, precisa de unir-se/associar aos outros para garantir a satisfação das suas necessidades. Thomas, vai contradizer afirmando que os homens não tiram prazer algum da companhia dos outros, pois cada um pretende que seu companheiro lhe atribua o mesmo valor que ele se atribui a si próprio, na presença de todos os sinais de desespero ou de subestimação. E sendo assim, “ Os Homens não são seres sociais”.
Hobbes aponta três principais causas da discórdia na natureza humana: competição, desconfiança e glória.
A competição leva os homens atacarem-se uns aos outros tendo em vista o lucro usando a violência para se tornarem senhores das pessoas, mulheres, filhos e rebanhos dos outros homens. A desconfiança por sua vez leva a segurança, isto é, luta pela defesa. E a glória, faz os homens procurarem a reputação por ninharia como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião e de qualquer outro sinal de desprezo, quer seja directamente aos seus parentes, aos seus amigos à sua nação à sua profissão. Com isto torna-se manifesto que durante o tempo em que os Homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra de todos contra todos. A natureza da guerra não consiste na luta real, mas na conhecida disposição para tal durante o tempo em que não há uma garantia do contrário.
Tudo que é valido para o tempo de guerra em que todo o homem é inimigo de outro, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode ser oferecida pela sua própria força e pela sua própria invenção.
Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois o seu fruto é incerto consequentemente não há cultivo da terra, nem navegação, nem uso de mercadorias que podem ser importadas pelo mar, não há construções confortáveis nem instrumentos para mover e remover as coisas que precisam de grande força, não há conhecimento da face da terra, nem computo do tempo nem artes, nem letras, não há sociedade e o pior de que tudo, um perigo e temor constante de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre, sórdida, selvagem e curta.
Entretanto, os desejos e outras paixões do homem não são em si mesmos um pecado. Nem tão pouco, o são as acções que derivam dessas paixões, até ao momento em que se tome conhecimento de uma lei que as proíba, o que será impossível até ao momento em que sejam feitas as leis, e nenhuma lei pode ser feita antes de se ter concordado quanto à pessoa que a deverá fazer.
As noções do bem e do mal, de justiça e de injustiça aí não tem lugar. Onde não há poder comum, não lei nem injustiça. Não há propriedade, nem domínio, nem distinção entre o meu e o teu, só pertence a cada homem, aquilo que ele é capaz de conseguir e enquanto for capaz de conservar.
As paixões que fazem os homens tender para a paz são o medo da morte, o desejo daquelas coisas que são necessárias para uma vida confortável e a esperança de as conseguir através de trabalho. E a razão sugere adequadas normas de paz em torno das quais os homens podem chegar a acordo. Essas normas são aquelas a que por outro lado se chamam leis da natureza. Lei da natureza é segundo Hobbes, um preceito ou regra geral estabelecida pela razão mediante o qual se proíbe a um homem fazer tudo o que possa destruir a sua vida ou privá-la dos meios necessários para conservar ou omitir aquilo que pense melhor contribuir para preservar.
Das causas, geração e definição de um Estado
O fim último, causa final e desígnio dos homens ao introduzirem aquela restrição sobre si mesmos, sob a qual os vemos viver em Estado, é o cuidado com a sua própria conservação e com uma vida mais satisfatória. Ou seja, o desejo de sair daquela condição de guerra que é consequência necessária das paixões naturais dos homens quando não há um poder visível capaz de os manter em respeito, forçando-os por meio de castigo ao cumprimento do seu pacto ao respeito daquelas leis da natureza. Os homens estão constantemente envolvidos numa competição pela honra e pela dignidade. E por isso que surgem entre os homens a inveja e o ódio e finalmente a guerra. O homem só encontra felicidade na comparação com os outros homens e só pode tirar prazer do que é eminente. Os homens são em grande número os que se julgam mais sábios e capacitados do que os outros para o exercício do poder público. E se esforçam por empreender, reforçar inovações uns de uma maneira e outros de outra, acabando assim por levar o país a desordem e a guerra civil.
O acordo vigente entre os homens surge apenas de um pacto que é artificial. Portanto, não é de admitir que seja necessária alguma coisa mais além de um pacto para tornar constante e duradouro o seu acordo, isto é, um poder comum que os mantenha em respeito e que dirija as suas acções no sentido de benefício comum. E esse pacto é efectuado por meio de um contracto, que de acordo com Thomas, é a transferência mútua de direitos. E aquele que transfere qualquer direito, transfere também os meios de gozar, na medida em que tal esteja em seu poder. Portanto, aqueles que dão a um homem o direito de governar soberanamente, se entende que lhe dão também o direito de recolher impostos para os seus soldados e de designar magistrados para a administração da justiça.
Geração de um Estado
A única maneira de instituir um tal poder comum capaz de os defender das invasões dos estrangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que mediante o seu próprio saber e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda a sua força e poder a um homem ou uma assembleia de homens que possa reduzir as diversas vontades por pluralidade de votos a uma só vontade. O que equivale dizer: designar um Homem ou assembleia de homens como representante de suas pessoas. O poder político é o meio necessário para alcançar a paz. Para Hobbes, o Estado é uma pessoa cujos actos, uma grande multidão mediante pactos recíprocos uns com outros foi instituída por cada um como autor, de modo a ele poder usar a força e os recursos de todos da maneira que considerar conveniente para assegurar a paz e a defesa comum. E o portador dessa pessoa chama-se soberano e dele se diz que possui poder soberano. E todos restantes são súbditos.
Por fim, Thomas Hobbes considera a existência de três formas de governo, nomeadamente: Monarquia, quando o representante é um só homem; Democracia ou governo popular quando representado por uma assembleia; e Aristocracia quando é dirigido por um grupo ou parte da assembleia.
Entretanto, governos como Tirania, Oligarquia não se tratam de outras formas de governo, mas das mesmas acima mencionadas, quando são detestadas. Ou seja, os que estão descontentes com a Monarquia chamam-lhe Tirania e aqueles a quem desagrada uma Aristocracia chamam-lhe de Oligarquia, do mesmo modo os que sentem prejudicados por Democracia chamam-lhe Anarquia. A diferença entre essas espécies de governo não reside numa diferença de poder, porém numa diferença de conveniência, isto é, a capacidade de garantir a paz e a segurança do povo, fim último para o qual foram instituídos.

Reflexão
Sem dúvida alguma, o pensamento de Hobbes, faz uma profunda Revolução teórica do Estado, criando uma tipologia estatal que permanece até hoje. Evidentemente que algumas sociedades do presente, sobretudo africanas como a moçambicana, não assimilaram parte das suas concepções. Para Hobbes, o Homem não participa na construção do Estado, apenas cumpre. No entanto, na sociedade moçambicana, o indivíduo é cidadão e ao mesmo tempo fiscalizador do próprio Estado. É comum ouvir no panorama social moçambicano, cidadãos tentando fazer trabalho do Tribunal Administrativo, instituição vocacionada a fiscalização das contas do Estado.
Um outro aspecto que me chama atenção neste sábio pensamento de Thomas Hobbes, é o estado de natureza do homem, quando este vive sem um poder comum e superior. Será que a instituição e existência deste poder nas sociedades actuais, conseguiu suprir a natureza egoísta e egocêntrica do Homem? Penso que não. Não haverá uma necessidade de se rever a actual instituição do poder particularmente nos países africanos? As evidências revelam que por um lado, os próprios decisores democraticamente eleitos, conduzidos por este espírito egoísta, usam e abusam do poder comum, para acumular riquezas pessoais e beneficiar seus familiares e por outro, o cidadão comum vive um ambiente social tenso, inseguro e incerto a tudo e de todos. Sendo a vida cíclica, nãos estaremos neste momento a viver um estado de natureza? Talvez mais sofisticado, pois temos leis, poder democraticamente eleito, instituições, contudo, nada disto funciona perfeitamente ou para os propósitos aos quais foi criado.   

“Palavras ditas, não são necessariamente verdades, não deixam de ser opiniões”