Se de acordo com o académico e sociólogo Elísio Macamo, há
coisas em Moçambique, que não adianta nos preocuparmos em entender,
naturalmente há também fenómenos que pelo menos devem nos inquietar, sobretudo,
no actual estado de profunda pobreza que nos caracteriza, pelo que, qualquer
facto é sempre suspeito.
Não sei se é mesmo pela extrema miséria, mas estranha e
incrivelmente, somos uma “sociedade” tão tensa e desconfiada, razão pela qual
perdemos tempo nos preocupando mais com o que os outros pensam de nós do que com as
nossas próprias vidas.
Nas curtas caminhadas da minha vida, sou presenteado por
um fenómeno aparentemente irrelevante, porém, com o teor profundamente significativo
e perigoso, sobretudo numa sociedade quanto a nossa ainda em construção. Talvez
porque os ínfimos traços desta mesma sociedade encontram-se mergulhados dentro
de uma vida completamente comunitária, inclusive nas ditas zonas urbanas ou
cidades se assim o preferirem, pelo que somos confortados sempre com o “Homem
que sai do Gueto, mas sem necessariamente o Gueto sair dele”, só para
parafrasear as palavras do cantor moçambicano do Panza, Ziqo numa das suas
famosas músicas.
Por que é que nós moçambicanos damos
maior atenção a INVEJA?
Eh! Evidencias disto não faltam, desde verbais a
materiais. Por diversas vezes deparei me com frases escritas em auto-carros e em
barracas, dizendo: “A sua inveja é a minha riqueza”, “Inveja, arma perigosa do
pobre”, “Cuide da tua vida, que da minha cuido eu”, “Quanto mais me invejas,
mais vou crescendo”, “A sua inveja é a razão do meu sucesso” entre outras
idiotices do género.
Será que os moçambicanos são
realmente invejosos?
Curioso e lastimavelmente conheço gente que não visita as
suas zonas de origem, por conta da famosa “INVEJA”, chegando a apontar questões
supersticiosas como justificativa das atitudes pouco agradáveis. Sei e concordo
que naturalmente o Homem seja egoísta, egocêntrico e invejoso. No entanto, quando
este atinge o estágio de sociedade, ganha uma outra postura caracterizada de
acordo com Del Vecchio, por relações mediante as quais vários indivíduos vivem
e actuam solidariamente em ordem a formar uma entidade nova e superior. A
partir desta concepção fica claro que na sociedade, o homem não vive isolado,
pelo contrário precisa de forma jurídica e racional de se associar aos outros na
luta tanto pelos interesses comuns, como pelos individuais.
Ao vivermos num ambiente social em que envocamos que o
outro é sempre inimigo, estaremos a viver plenamente em sociedade?
A minha leitura sobre a realidade, força-me a dizer que
não, aliás nos dias que se passam, o enfoque a INVEJA, como sendo um dos
grandes obstáculos do fracasso de muitos dos moçambicanos, tem sido uma das
estratégias usadas por algumas ceitas religiosas na angariação de “membros”
para as suas comunidades religiosas em nome de evangelização.
Bem! Quando digo fenómeno moçambicano, é em nome da
Unidade Nacional, talvez isso não acontece na zona centro ou norte do país (nunca
estive lá), no entanto o presidente Guebuza ensinou-me a olhar Moçambique como
um todo e não regionalmente.
Pés embora não entenda, talvez devido a minha larga e
severa ingenuidade, porém este fenómeno me inquieta profundamente, pois para além
de constituir uma evidência clara de um estímulo a sentimentos invejosos entre
os moçambicanos, é uma atitude que só promove tensão e uma vida especulativa e
solitária, colocando-nos cada vez mais atrasados do que estamos.
Não nego que de facto, a INVEJA exista entre os homens,
porém, a forma coma a mesma invocada no contexto moçambicano, deixa claro que ao
pretendermos fazer alguma coisa, ao invés de pensarmos no sucesso, damos primeiro
maior atenção ao que os outros negativamente dirão ou mesmo farão. Infelizmente,
notamos também esta forma de pensar nos discursos dos nossos dirigentes
políticos, por exemplo, quando o presidente Guebuza chama os críticos de “distraídos”.
Para além de uma evidência clara de alergia a críticas, dá entender que essas
pessoas estão “contra” e portanto com INVEJA. Estariam os moçambicanos contra o
seu próprio desenvolvimento?
A minha curta experiência me diz que, fala de desporto
quem gosta ou pratica desporto, fala de política quem gosta ou exerce a política,
logo…então, para não parecer invejoso melhor é terminar por aqui.
“Palavras ditas não necessariamente verdades, portanto, não
deixam de ser opiniões”