A noite anterior foi relativamente longa, me deitara por
volta das oito, após uma diversificada jornada de “trabalho”. Estava realmente
cansado, razão pela qual dormia como uma pedra atirada no fundo do mar. O silêncio
da noite, a minha “morte” instantânea me fizeram sentir como um anjo durante um
sonho que jamais me esquecerei. Sonhei com Moçambique!
Não que quis acreditar naquilo, mas era verdade. Moçambique
era um país institucionalmente descentralizado, com autonomia política e
económica por todos pontos, o que fazia das suas comunidades tão equilibradas e
com orgulho das suas próprias origens. Naquele instante, caminhar pelas ruas de
Mafala, Maxaquene e Polana Caniço durante a noite, era saudável, aliás, pés
embora as suas especificidades não passavam de simples bairros assemelhados a
Coop e Sommerschield. Pelos midias chegavam notícias de Hospitais quase que
vazios, pois seus utentes moçambicanos respiravam de óptima saúde, fruto das boas
condições de vida que possuíam motivadas por um satisfatório salário, que
jamais me fizera ouvir falar de manifestações profissionais ou corrupção. Quis
eu ser incrédulo, porém, a informação chegava até mim por meios de comunicação transparentes e acima de tudo comprometidas com a verdade.
A nível político, contávamos apenas com forças do poder
público e o parlamento era extraordinariamente interessante, caracterizado por
um real multipartidarismo, onde dos três partidos com assentos, nenhum era mais
importante que outro, “importante” era sim o bem-estar dos seus reapresentados
(Povo) proporcionando-os estabilidade e PAZ que ninguém jamais ousava em
ameaça-la. O Gabinete Central de Combate a Corrupção, tinha se tornado num
Centro de assistência marital.
Não passava pela cabeça de nenhum moçambicano, que o seu
presidente fosse tão alérgico a críticas e que pudesse odiar as redes sociais,
pelo contrário era um “tipo” bastante simpático e sempre aberto ao diálogo, e
que de tanta humildade era o presidente mais “pobre” de África. Para ele, o
povo é que tinha direito de acumular riquezas e não os seus dirigentes. Me
fascinava ainda mais o seu estímulo e incentivo no uso de tecnologias de informação
pelos jovens, razão pela qual o reconhecimento pela criatividade e talento em Moçambique
era o nosso pão de cada dia.
Éramos tão felizes, que o nacionalismo não era um mero
discurso político, mas sim uma verdade evidente inclusive quando
compartilhávamos sentimentos no apoio as nossas selecções desportivas, que nos
brindavam com vitórias e troféus, resultado do seu empenho e compromisso com a
bandeira nacional, sendo que por sua vez as autoridades desportivas, apoiavam a
todos sem distinção de sexo, idade, raça, modalidade, etc.
Naquela “pátria amada”, a fé em Deus não tinha preço,
aliás, locais de cultos religiosos serviam apenas para buscar saúde espiritual
e aprofundamento do auto e amor ao próximo, não deixando por isso espaço para ódio
e competição religiosa. Fazer parte da Polícia da República de Moçambique, constituía
uma tarefa bastante honrosa e respeitada caracterizada no seu exercício por
zelo e responsabilidade, sendo que o polícia que se descuidasse e fizesse do
seu uniforme uma ferramenta para extorquir e maltratar cidadãos indefesos, era
punido exemplarmente.
Entretanto, por volta das cinco e meia da manhã, o alarme
como de sempre fez das suas, mas dessa vez de forma dolorosa. Depois de piscar
o olho, não podia ouvir melhores notícias pelo meu pequeno rádio de cabeceira. “Criança
raptada por desconhecidos na cidade da Matola; Treinador de nacionalidade
portuguesa expulso do país, acusado de chamar os moçambicanos de ladrões; RENAMO
ameaça inviabilizar as eleições autárquicas de Novembro próximo”; eram os
destaques do dia que me reintegravam no Moçambique real. Pés embora,
melancólico levantei-me com a mão no queixo e olhar para o teto, tirei um
pequeno sorriso e agradeci a Deus pela noite… SONHEI COM MOÇAMBIQUE.