No passado dia 25 de Fevereiro do ano em curso, a secretária do Estado americano, Hillary Cliton, esteve reunida com jovens em Tunis, cidade capital da Tunísia, na sua segunda visita em menos de um ano, naquele país do Magrebe, pouco tempo depois do derrube do regime ditatorial de Ben Ali, através de uma revolução que visava a implantação de um regime democrático.
Pelo contexto actual de crise, de crescente nível de desemprego dos jovens mundialmente, esta conversa de secretária norte americana com os jovens tunisinos, mereceu um debate em Moçambique, que teve lugar no passado dia oito de Março no consulado dos Estados Unidos de América em Maputo, que contou com presença de diversos convidados, entre académicos e representantes de várias organizações.
O discurso de Cliton, foi todo centrado na construção e consolidação de uma democracia sustentável na Tunísia, com enfoque particular no papel dos jovens. E porque a realidade da Tunísia no momento, não é muito diferente ao que se passa em países da África Austral como Moçambique e Angola só para citar alguns, preferi partilhar este pequeno discurso, que vale a pena conferir.
Hillary, começa por reconhecer que construir uma democracia sustentável e uma economia moderna, garantindo os direitos universais a todos tunisinos, a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa, a liberdade de religião, a liberdade de associação, tudo isso leva tempo para se estabelecer solidamente.
Após esta afirmação, a secretária justifica o porque depois de tanto tempo, só hoje registarem se mudanças nos países árabes, tendo começando pela Tunísia, dizendo que primeiro, é que os direitos humanos não podem ser negados para sempre, não importa o quão opressivo possa ser um regime. Em segundo lugar, os revolucionários pertencem a uma geração notável de jovens, não só da Tunísia mas em todo o mundo, são jovens optimistas, inovadores e impacientes. E por esta razão, o mundo hoje, corre risco ao ignorar os jovens, que segundo dados demográficos, há mais de três biliões de pessoas com menos de 30 anos no mundo, o que faz com que esses mesmos jovens tenham três vezes mais probabilidades de ficarem desempregados do que os mais velhos.
Para mostrar o perigo que mundo corre pela desorientação e ignorância dos jovens, Hillary, tocou a questão da globalização, tendo afirmado que a economia global está cada vez mais se conectando, o que faz com que mesmo com diplomas de pôs graduação, os jovens não tenham competências que o mercado global procura, com registo de grande êxodo para as grandes cidades, mas que também não tem surtido os efeitos desejados.
Vive-se hoje, um clima de frustração e instabilidade que pode ser explorado por extremistas e criminosos, devido ao desaparecimento dos fortes laços na família e na comunidade, contribuindo para que os jovens se sintam sozinhos.
A secretária americana, aproveitou o momento para dar a conhecer algumas das medidas que estão sendo tomadas como solução, tendo afirmado que os EUA estão formar conselhos de jovens nas embaixadas americanas para terem contacto directo com os jovens, porque pretendem que cada problema tenha uma solução e foi também criado o Escritório para Questões Globais dos Jovens em Washington, para assegurar meios de fazer parcerias com os jovens.
Cliton, deixou ainda uma recomendação para uma das abordagens que realmente funciona, o incentivo na economia do empreendedorismo, um dos temas da actualidade em Moçambique.
Num último ponto, ela deixou um apelo a um dos grandes obstáculos das economias africanas, a corrupção, onde disse que devia-se castigar os actores deste crime sempre que ocorrer, fazendo-se por exemplo o uso das redes sociais que foram utilizadas para derrubar o regime de Ben Ali, pode se incentivar maior transparência e boa governação.
E aos partidos políticos, religiosos e laicos, estes devem cumprir as regras básicas, ou seja, rejeitar a violência, apoiar o Estado de Direito, respeitar a liberdade de expressão, religião, associação e reunião, proteger os direitos das mulheres e das minorias, renunciar ao poder se for derrotado nas urnas e em especial numa região com profunda divisão religiosa, evitar acender conflitos sectários que dividam as sociedades, o que em outras palavras significa não só falar de tolerância e pluralismo, mas também viver, e por isso, proteger a democracia é um dever de cada cidadão.
Hillary Cliton, ainda teve momento para mostrar o quão importante é viver em união como uma efectiva nação, identificando-se com agenda e problemas nacionais, quando justificou ao porque de aceitar o pedido de Obama, para formar governo, mesmo depois de perder para ele as eleições. Tendo dito que, fazer parte da administração de Obama, tinha a ver com sistema político e agenda dos EUA e não com as suas vidas pessoais, e por isso aceitou o pedido de ser secretária do Estado porque eles amam o seu país, “nós amamos o nosso país”.
Em última intervenção, Cliton, fez referência necessidade de igualdade de género, ao dizer que em muitos lugares do mundo as leis e os costumes tornam difícil para as mulheres iniciar um negócio, candidatar-se a um cargo público e até tomar decisões pessoais. Entretanto, ela deixou claro, que tudo isto é um processo, portanto, leva seu tempo e é necessário ter muita paciência.
Após se acompanhar o discurso em vídeo no consulado dos EUA, em Maputo, numa leitura mais contextualizada, os presentes tiveram oportunidade para dar suas opiniões, e dentre várias intervenções, ficou claro que há uma necessidade de se ter uma juventude moçambicana mais activa, o que passa necessariamente pela unidade e identidade da agenda nacional. Verifica-se hoje em Moçambique, existência associações e organizações juvenis partidarizadas e com fraco poder de influência, em parte devido a falta de representação efectiva a nível nacional e não ousadia ou até medo por parte dos jovens em fazer exigências legítimas que visem melhorar as suas condições de vida.
Baixe o discurso completo aqui: