Empreendedorismo & Activismo Social

terça-feira, 7 de maio de 2013

Guebuzismo III


“Um governo incapaz”

Já se vão alguns dias que não me tenho feito presente neste espaço com a regularidade de sempre. A razão para tal é que tenho sido crescentemente conquistado por um certo grau de insatisfação pela vida neste país, causada sobretudo pelo estado pouco saudável do sistema político.
O dia-a-dia por aqui tem se caracterizado por erros governamentais dando evidências claras de um Estado rumo a falência e uma vida cada vez mais dura para a maioria da população. E por causa disso, nos últimos dias a pessoa do presidente da República, Armando Guebuza, tem sido debate no panorama social, político e particularmente académico, associando-se a esta figura um carácter egocêntrico e de pouco de dialogo pelo menos se comparado com o seu antecessor, Joaquim Chissano.
Entretanto, os académicos Elísio Macamo (sociólogo) e José Macuane (Cientista Político), teriam em sequência desse debate, feito recentemente intervenções de alguma forma contrárias a maioria, defendendo nas suas declarações, que o presidente Guebuza, não era exactamente o que a maioria pensava e que este teria feito ou faz muito pelo país, sobretudo pelo partido FRELIMO, tendo segundo eles, reorganizado esta formação política. No entender destes académicos, com Guebuza, a FRELIMO ganhou maior dinâmica o que lhe permitiu conquistar e dominar o campo político moçambicano.
Eu pessoalmente, concordo que a FRELIMO-Guebuza tenha feito um trabalho, especificamente a nível eleitoral digno de realce, contudo, a relação competência política VS qualidade de vida à população, manda me dizer que este governo é fraco, incompetente e descomprometido com o seu povo.
Mesmo a tal reorganização interna do partido FRELIMO, traz-me certas indagações.
Será que a actual FRELIMO é efectivamente mais forte que a FRELIMO da "era" Chissano? E a mesma que questão pode ser válida quanto aos governos por eles constituídos.
A FRELIMO da "era" Chissano, dirige o país num momento de reconstrução (após a guerra civil), caracterizado politicamente por um panorama partidário relativamente mais competitivo e interactivo, apesar de bipolar, com uma oposição (RENAMO), forte e com chances reais de conquistar o poder central, mas mesmo assim, a FRELIMO vence as eleições de 1994 e 1999 num escrutínio com cerca de 90% e 70% de participação eleitoral respectivamente.
A FRELIMO de hoje, conquista também as eleições de forma “esmagadora” como eles dizem, porém num cenário caracterizado por uma autêntica e crescente abstenção eleitoral e de um total enfraquecimento da oposição desde os pequenos partidos, (com e sem expressão), até ao maior, a RENAMO.
E esta mesma FRELIMO, tem por um lado, revelado uma imagem de união e solidez fantasma, com algumas figuras popular e intelectualmente ilegíveis se afastando (ou sendo afastadas) dos processos decisórios do partido e por outro, a mesma formação política, tem nos brindado por formar governos constituídos por indivíduos sem expressão política e de alguma incompetentes, razão pela qual assistimos a um cenário de demissões sucessivas já mais vistas.
O actual governo da FRELIMO tende a perder o brilho de partido académico que revelou em tempos, transformando-se numa formação política violenta tanto a nível discursivo, como também na sua actuação prática, através da instrumentalização da polícia.
Não pretendo necessariamente aqui fazer comparações entre prestação deste ou daquele, até porque o próprio Guebuza fazia parte da FRELIMO na "era" Chissano, mas apenas dar minha posição em relação as declarações pró-guebuza acima referenciadas. E portanto, para mim, a actual FRELIMO tanto como partido, assim como governo, tem deixando graves lacunas na sua forma de actuação, mostrando-se incapaz e longe de garantir uma governação eficiente.
Alguns analistas e comentaristas têm repartido a culpa de parte dos problemas que nos apoquentam, aos subordinados de Guebuza. Possivelmente com alguma razão, mas, olhando a forma como as coisas estão sendo conduzidas, em que a figura do chefe do Estado é e sempre foi tudo, não vejo motivos para não lhe culpar. Em minha opinião a repartição do castigo teria sentido perante um semi-presidencialismo (ver o texto: Porque não o semi-presidencialismo em Moçambique?).
De forma alguma, quero desvalorizar o trabalho feito pelo governo de Guebuza, até porque existem evidências e factos revelando alguma coisa sendo feita, aliás o país tem registado um crescimento económico considerável, porém muito aquém da satisfação da população moçambicana. E prova da grande distância entre o desempenho governamental e a satisfação popular, é o relatório divulgado recentemente pelas Nações Unidas sobre o desenvolvimento humano, que coloca Moçambique como um dos piores países do mundo.
E como era de se esperar, o governo moçambicano, na pessoa do Ministro da Planificação e Desenvolvimento Ayuba Coreneia, veio a público negar alegando que os dados apresentados no relatório eram antigos e nada dizem respeito ao cenário actual. No entanto, cá entre nós o que importa sãos os sinais de riqueza ou de pobreza, e de facto verificamos uma grande melhoria na vida em Moçambique, mas para apenas um grupo de pessoas, enquanto a grande maioria da população se afunda cada vez mais na miséria.
O cenário de transporte de Maputo, prova-nos este facto, onde assistimos pessoas sendo transportadas em camionetas como se de cães ou objectos se tratassem, com todos os riscos que dai advêm, em plena cidade capital de um país. E o ponto central que me faz atirar a razão ao relatório do PNUD, é que em tempos passados as viaturas de caixa aberta serviram como meios de transporte, porém em situações muito melhores que as actuais, pois na altura, os passageiros dispunham de assentos e cobertura para se proteger de sol e da chuva. E facto curioso, é que no meio deste grande sofrimento, a empresa Transportes Públicos de Maputo (TPM), introduziu recentemente uma carreira executiva de 70 meticais por viagem, contra os 7 meticais cobrados normalmente, como forma de cobrir as despesas da empresa. (?).
Um outro aspecto digno de destaque que me faz ainda crer na veracidade do relatório, é o crime "corrupção", com índices completamente fora de controlo. Pés embora, a questão da corrupção, seja um grande legado da FRELIMO e não apenas do governo de Guebuza, é mister fazer realce aqui neste texto, dado que após a ascensão ao poder do actual presidente, vimos um conjunto de perseguições criminais sob acusação de corrupção tendo culminado com detenções de alguns altos dirigentes do Estado, todavia, a verdadeira corrupção está muito aquém de ser eliminada, sendo que nos últimos dias informações dão fortes indícios de nepotismo ao nível de atribuição de cargos tanto em empresas públicas como de gestão privada.     
De certeza que Guebuza ao terminar seu mandato (quiçá), poderá falar de alguns projectos de habitação, particularmente para jovens. E sem dúvida alguma, temos infra-estruturação nesse sentido. Porem, não sei para que jovens as habitações são destinadas, porque para moçambicanos é que não, dado aos altos valores cobrados para a sua aquisição, pois o verdadeiro jovem moçambicano, na sua maioria encontra-se mergulhado no desemprego, fruto em parte da banalização do ensino superior em Moçambique e também da introdução de cursos e currículos desenquadrados, contribuindo para a existência de muitos formados (objectivo do governo), mas todos eles sem qualidade.
«Onde tínhamos apenas uma escola primária para uma comunidade de cerca de 1000 crianças, conseguíamos no final atingir 80%, 90% de aprovações de alunos tendo domínio no mínimo da escrita e da leitura, hoje temos na mesma comunidade, naturalmente um pouco de mais 1000 crianças (devido aos nascimentos crescentes), ao invés de uma, talvez três ou quatro escolas primárias, com uma aprovação de quase 100%, mas de alunos que não sabem ler, nem escrever, ou seja, analfabetos alfabetizados».
É exactamente aqui onde reside a razão e a lógica dos relatórios do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, (PNUD).  
Um outro ponto que não podia deixar de destacar aqui, é questão estabilidade política e democracia multipartidária.   
Recordo de uma entrevista em algum órgão de informação, a um alto dirigente da FRELIMO, por sinal mulher, que teria afirmando que a intenção do seu partido era de conquistar os 250 assentos na Assembleia da Republica. Bem, democraticamente feito, de certeza que seria legítimo, mas, inquietam-me os mecanismos actualmente usados para o alcance desta intenção.
A verdade é que de facto a FRELIMO, quer acabar com a oposição, a todos níveis, (político, social e militar para o caso da RENAMO). 
E a questão é: que tipo de democracia multipartidária os tipos pretendem introduzir?
Entretanto, engana-se que pensa em acabar com oposição em Moçambique, sob o risco de tornar seu próprio povo “oposição”, alias, oposição não é apenas Afonso Dlhakama, Davis Simango, Raul Domingos e seus respectivos partidos políticos. Oposição é muito mais que isso! E é mais oposição quando encontra insatisfação nos seus anseios.
Nos últimos dias, vários segmentos da sociedade moçambicana tem apelado a continuidade e o reforço da paz alcançada com os acordos de 1992, sobretudo após os discursos belicistas da RENAMO e também depois dos últimos ataques registados em Muxungue, na província de Sofala.
Acredite ou não, a verdade é que Moçambique dispõe actualmente de condições para eclosão de qualquer tipo de conflito, ou seja, estamos perante uma bomba potencialmente explosiva.
Para além da questão RENAMO politicamente frágil, mas ainda militarizada e agora de volta as matas, existem diversos focos de descontentamento ao nível da sociedade moçambicana, os desmobilizados de guerra, os trabalhadores da antiga RDA, juventude desempregada, só para citar alguns.
O governo da FRELIMO em nenhum momento resolveu de forma eficiente e definitiva os problemas do seu povo, apenas optou pelo recurso do improviso (como por cá se diz, sempre tapou o sol com a peneira).  
Não iria me esquecer da componente Recursos Naturais, que são na sua essência uma das grandes e principais causas de conflitos, particularmente em países africanos, onde todos desejam ter comissões ou dividendos da sua exploração, alias esta é uma das questões levantadas pela RENAMO.
Entretanto, na prática uma redistribuição equitativa de recursos naturais, só é possível através da entrada das ditas comissões aos cofres do Estado e posterior canalização a população por meio do melhoramento na prestação de serviços ao cidadão, educação, saúde, transporte, infra-estruturas, etc. No entanto, este processo requer dirigentes, responsáveis, idóneos e acima de tudo comprometidos com a causa pública, requisitos que infelizmente não fazem parte do perfil dos dirigentes moçambicanos.
…que tipo de redistribuição de recursos se espera, se governo moçambicano tem dificuldades até de reassentar com sucesso pequenas comunidades como a de Cateme (Tete), só para dar um pequeno exemplo.
Será que esses indivíduos têm efectivamente capacidade para transformar investimentos em bens e serviços para o povo moçambicano do Rovuma ao Maputo e do Índico ao Zumbo, revelando dificuldades em garantir controlo de recursos florestais, que estão sendo devastados com relatos de envolvimento de altas figuras do governo? Ou nem se quer merecem serem chamados de dirigentes políticos?   
Sei que, o que o cidadão em Moçambique pensa e diz não interessa, porém não custa nada lembrar que na condição de cidadão, tenho direito ao menos de expressar tudo o que sinto, sob o risco de perder esse direito sem nunca o ter gozado, dada a tendência actual do sistema político. E gostaria também de sublinhar que não tenho nada contra a pessoa do presidente Guebuza, até porque como disse no texto “Guebuzismo II”, eu o admiro bastante como empresário, mas não como gestor público, e por isso, apesar de constitucionalmente ser impossível, pessoalmente penso que o senhor Guebuza não reúne condições para ser reeleito.
E para terminar, gostava de garantir para as próximas eleições autárquicas, legislativas e presidenciais, o meu voto ao partido e candidato abstenção. E se não for pego por uma bala perdida da FIR, até a vista…