Empreendedorismo & Activismo Social

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Rescaldo do meu final de semana

Sexta-feira começou bem, com um convite para passar o final de semana em casa de meus primos, num dos bairros arredores da cidade de Maputo. Pela noite dentro, saí na companhia dos primos e amigos para trocar alguns uns copos, como vulgarmente por cá se diz. Estávamos nas barracas do principal mercado, que pelos relatos, final de semana pós final de semana, atraem centenas de jovens que por lá se divertem, ao som das músicas mais ouvidas na praça, nomeadamente pandza e afrohouse. Felizmente, não se registou por lá até ao memento nenhuma queixa relativamente a criminalidade, o mesmo que não se pode dizer de Mwelé, na cidade de Inhambane, que nos últimos dias tem sido palco de actos criminosos envolvendo jovens disfarçados de clientes das barracas do principal mercado deste bairro, onde segundo a Rádio Moçambique, no pretérito final de semana uma senhora foi assassinada, depois de violada sexualmente. Posha! Esses tipos Pah! Mas como o meu final de semana não foi em Mwelé, voltamos ao assunto em destaque.
Dizia que…ham! Depois da animada sexta-feira, o sábado foi mais calmo, e preferi estar em casa, acompanhado por uma leitura de um romance da jovem escritora moçambicana Ginger Andra (Maíra de Andrade) intitulado “Feitiço amoroso”. Cada segundo que folhava, cada página acrescida na minha leitura, o tempo passava tão rápido que só me apercebi que já era tarde (período do dia), quando meu tio chagava, vindo de Swazi para nos visitar. Sentados na sala de visita, a noite era consumida pelas agradáveis conversas do titio, contando como eram os seus tempos, sabem muito bem como são as conversas dos adultos… “nos meus tempos, isto era assim”…como se hoje as coisas não tivessem forma ou jeito algum.
Domingo, logo pela manhã, mais algumas páginas de “Feitiço amoroso”, para ganhar boa disposição. Por volta das 13 horas demos uma saltada até a baixa da cidade para fazer umas compras, já que o tio regressaria no mesmo dia a terra do muswati. Estranhamente, a estrada N1, encontrava-se super policiada. “Vai passar gente importante”- imaginei. Quando chegamos na zona do cemitério de Lhanguene, bem em frente a UP (Universidade Pedagógica), eis que um polícia de trânsito, manda-nos parar, e ao nosso lado esquerdo passavam duas viaturas, um Toyota Corola e a frente um Mark II, que para o meu espanto, o polícia apenas ordenou que nós parássemos, mas meu tio, não se surpreendeu, pois sabia que conduzia um autocarro com matrícula estrangeira. O polícia conferiu todos documentos, e não existindo problema ou alguma irregularidade, derrepente com voz baixa e violenta diz:
-Na Suazilândia não se pára no semáforo? O senhor não parou no semáforo quando este, encontrava-se vermelho para veículos.
Pufh! Um espanto, foi como se o polícia tivesse problemas mentais, na medida em que, quando passamos do semáforo estava todo verdinho para nós, alias, no momento passavam também dois autocarros a esquerda, como fiz referência antes. Foi como um balde de água fria.
- Paga multa senhor e vai embora – afirma o polícia.
Meu tio irritado, não via hora de voltar para casa e minha vontade era estar em qualquer outro lugar, menos ali, vendo um polícia perpetuando um acto de injustiça.
- Quanto é? Questiona meu tio.
-Dois mil meticais. Responde ele.
Meu tio não trazia dinheiro em metical, mas sim em rand. Engraçado! O polícia, trazia nas mãos a caderneta para as “multas”, que simulava escrever algo, até que meu tio disse que não tinha metical e logo respondeu com autoridade.
-Então dê-me 300 rands.
Indaguei-me. Ele disse que a multa eram dois mil meticais, mas na ausência do metical, ele levou 300 rands, que ao câmbio do dia não eram mais do que 1300 meticais. Pois é, aquilo não era multa, mas sim CORRUPÇÃO.
Paga a suposta multa, de novo a estrada com os olhos postos ao nosso destino, na esperança de chegar sem mais nenhum obstáculo do género. Contudo, o diabo nos perseguia e mais um polícia estica seu braço a nossa frente, desta vez um de protecção civil, e neste o que mais me marcou, foi o facto de que perante os documentos não parecia perceber nada, até porque tudo estava em Inglês, isto porque o carro foi registado na Suazilândia. O jovem polícia olhava para os documentos com cara de quem estava ver letras em chinês, e depois de conferir tudo pediu refresco e dado que tinha facultado alguma informação dêmo-lo 200 meticais e continuamos.
Após aquele cenário, lembrei-me das palavras da senhora Graças Machel, quando falava numa palestra, no Instituto Superior de Transportes e Comunicações (ISUTC), onde ela afirmava que a corrupção em Moçambique, tinha tomado proporções alarmantes, fazendo neste momento parte de íntimo dos moçambicanos, dando exemplo, dos pais, quando o ano lectivo começa, já sabem que devem tirar dinheiro para pagar vaga do filho na escola e quando o semestre termina, também devem fazer o mesmo para garantir a passagem de classe.   
De facto não há dúvidas de que a realidade sobre a corrupção no nosso país, é inquietante, não só pelo episódio aqui contado, mas também porque já não se pode viver sem esse tipo de actos, que mesmo constituindo um crime, são legitimados pelos cidadãos. A terminar o rescaldo do meu final de semana, espero que o polícia de trânsito, faça bom uso dos 300 rands, pois custaram suor de um homem trabalhador e acima de tudo, justo. 

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