“Você não precisa de iluminar toda estrada, apenas os próximos duzentos metros
–Jack Canfiled”. Numa viagem que por
exemplo tem como partida a capital Maputo (sul) e destino a cidade de Nampula
(norte), durante o percurso a estrada parece desviar para Este e vezes para
Oeste e nalgumas zonas mesmo viajando de uma viatura em perfeitas condições, o
condutor é forçado a reduzir significativamente a velocidade, nalgumas vezes como
forma “esquivar-se” de eventuais obstáculos e noutras vezes por que as regras
de trânsito assim mandam, entretanto, se a condução é sempre na defensiva mesmo
no meio de distintas dificuldades geralmente ao destino com sucesso chega.
Para alguns condutores e passageiros (sobretudo) o desligar do motor no
final da viagem é ao mesmo tempo o desligar da ansiedade, sendo que o medo lhes
vem fazendo companhia desde a partida. Nem mesmo a larga e belíssima paisagem
que vai banhando a estrada que os guia é capaz de aliviar sua tensão, ao que no
lugar de apreciar o girar das árvores, seguem imaginariamente evitando perigos.
A velocidade, as ultrapassagens e diferentes manobras próprias de uma viagem são
motivos de delírios.
Contudo, dos viajantes também existem aqueles que mesmo o rebentar de um
pneu não os faz esquentar, se encontram sempre tranquilos sendo que o trajecto
lhes transmite também a sensação de uma viagem no tempo. O mesmo encontramos em
certos mestres do volante que mesmo inexperientes, basta lhes força e coragem para
enfrentar os diferentes obstáculos que o caminho os opõe e porque tem consciência
de que estradas rectas não produzem condutores habilidosos, vão quilómetro a quilómetro
buscando fazer da sua viagem uma aventura sempre com os olhos erguidos, não só
para garantir uma boa visibilidade, mas acima de tudo para que sua velocidade reflicta
seus desejos e perspectivas durante o percurso.
Nesta longa estrada, conduzir defensivamente em muitos momentos é irritante,
na medida em que o condutor observa todas regras não só para garantir sua própria
segurança, como também em respeito aos seus passageiros e de outros tantos
utentes que se fazem a estrada, pelo que surgirão muitos que movidos por
diversas razões vão de diferentes maneiras fazer da sua viagem uma dor de cabeça.
Os egoístas próprios “da corrida dos ratos” que farão de tudo, seja para
bloquear uma possível ultrapassagem deste, assim como também para realizar uma
ultrapassagem da sua iniciativa a todo custo mesmo que isso valha a vida dos
outros.
Durante a noite, poderá ser encandeado, mesmo implorando para que o outro
ilumine de forma a garantir uma óptima visibilidade para ambos, em muitos casos
poderá ver seus pedidos negados, lhe fazendo perceber que nem sempre a razão vence
e que em certos momentos um deve ceder sua razão pelo bem todos. E se o
condutor tiver saído da escola de condução não apenas sabendo interpretar
sinais, mas acima com a atitude de sobreviver no meio emergências, na maioria
das vezes ao destino chega “são”, e no final sairá ganhando experiência, acima
de tudo sabendo que na via não basta ter domínio técnico da viatura, é preciso antes
de tudo saber manusear as ferramentas da mente. Mas porque a estrada é
realmente uma caixinha de surpresas, durante este percurso vai deparar-se com
outros condutores que lhe vão parar pedindo ajuda por qualquer eventualidade. Em
certos momentos após uma simples conversa com aquele que pede ajuda, pode
surgir uma possível troca de experiência que um dia pode lhe valer, razão pela
qual tudo na estrada, tem um propósito por mais insignificante que possa
parecer. Até mesmo a Polícia que lhe pára com objectivo de tirar vantagens ilícitas,
no final do dia lhe valerá algo.
Na verdade, a estrada é cheia de mistérios, pelo que o ódio, a vingança, a tristeza,
sempre farão companhia. Contudo, porque a vida humana é dual, a estrada também é
feita de amor e muita felicidade, sendo que esses últimos sentimentos dependem
exclusivamente do condutor, bastando que ele pratique bastante gratidão, pelo
que não lhe deve faltar OBRIGADO, para todos outros que lhes dão prioridade mesmo
quando tecnicamente não a possuem, a todos que lhe chamam atenção quando corre perigo e a todos outros que fazem da sua viagem uma real aventura, desde os mecânicos
que garantem a manutenção da sua viatura, as autoridades que mantém a estrada
em condições, aos policiais que tudo fazem para garantir segurança a todos, aos
passageiros ou companheiros que seguem junto com ele, aos agentes das estacões de
abastecimento de combustível que lhe fornecem este precioso líquido, aos
restaurantes que lhe proporcionam alimentação, entre tantos envolvidos nesta
estrada, pois se assim o fizer, perceberá que a vida tem mais motivos para
celebrar que para lamentar e chorar. É uma
questão de escolha: E tu preferes viajar com a mão no peito pensando que o
carro vai cair ou bater, ou prefere aproveitar o rolar dos pneus e da infinita
paisagem que te acompanha?