Empreendedorismo & Activismo Social

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Diário de um desempregado (I)


Já tenho aproximadamente um ano após ter terminado o ensino superior. Aquele dia tinha sido extraordinariamente fantástico. Depois que ingressei na Universidade, nunca tinha estado tão feliz como naquele dia, quando fiquei sabendo que me tornara licenciado. Que sonho! Eh, sonho mesmo. Alguém no passado me dissera que “aquilo” hoje “isto”, era coisa de gente rica! Kakakaka!!!
Não tirei lágrimas só porque acho que é coisa de fracos, mas também, digo graças a Deus por não o ter feito, pois me deixariam meio sem graça agora. Contudo, francamente falando, a emoção era tanta que por algum momento senti-me perfeito e “super man”.
Entretanto, se por um lado, aquele momento revela-se fascinante e profundamente alegre, por outro, marcava o início de uma longa e violenta guerra. E na sequência, nos dias que seguiram, o meu campo de acção foi se alargando de forma crescente, registando-se por consequência o meu fraco domínio pelo mesmo, agravado pelas enormes expectativas que fui alimentando durante a vida, sobretudo na minha formação superior que revelam-se por sua vez frustradas.
Nunca fui amigo do jornal. Eh! Esses tipos aqui me habituaram a contraditos e futilidades, e falta de transparência quando tratam de assuntos sérios sobretudo políticos. Porém, depois que me “formei” passei a me aproximar dele, não tanto para leitura integral, apenas procurando aquela página de anúncios sobre vagas de emprego e uma vez a outra quando me desse vontade atirava o olhar à actualidade internacional, única parte informativa nos jornais moçambicanos que aprecio, pés embora grosso da informação ali publicada seja copiada sem citação dos legítimos autores, com ou sem autorização, isso é que não sei dizer, mas já que estamos no país do “Pandza” deixemos para lá.
Porém, a verdade é que realmente as coisas por cá não estão nada boas. Dizem que não há emprego em Moçambique. Serio? Yah, não há emprego em Moçambique. Não será pelo curso? Não pah, não emprego em Moçambique. Não é verdade, é devido a tua cor de pele, sexo, teu estatuto social, religião, ou coisa parecida? Não man, não há emprego em Moçambique. Oh! Puf! Tsk! Mas será?
Sentado em frente a tela do meu personal computer (PC), derrepente uma chamada de um velho amigo que partilhava o mesmo sofrimento. Depois das nossas piadinhas esvaziadas, eis que ele me recomenda para procurar o jornal do dia, dando conta da existência de algumas vagas numa das instituições algures.
Hah! Zash! Eis aqui uma vaga para mim. Fogo! Que me***, dizem que o candidato deve ter pelo menos cinco anos de experiência, de preferência naquela área de trabalho.
Mas, mas, … eu nunca trabalhei! Eu sou recém-formado. Procuro meu primeiro emprego, depois de 16 anos consecutivos de carteira man! Entendes isso? 16 anos sentado na carteira ouvindo e seguindo ordens de professores, alguns bons, outros nem tanto, chatos e outros ainda corruptos. E tu vais me dizer que não tenho direito de emprego pelo facto de não ter trabalhado ainda! Ao me perceber e sentir que realmente as coisas por cá não estão nada simpáticas, começo a enlouquecer!
Afinal o que realmente os empregadores procuram? Eficácia e qualidade no trabalho ou apenas experiencia profissional? Será que aqueles que apresentam um perfil profissional mais rico curricularmente, detêm consigo também qualidade profissional? Não digo, nem sugiro que a experiência não sege requisito, porém não deve ser principal. Sou da opinião que os recrutadores disponham de ferramentas analíticas que possam avaliar o que o candidato está em altura de fazer no momento e não o que tenham feito anteriormente.   
Nem mesmo as instituições de formação técnica ensinam tudo o que os seus instruendos deverão fazer, o essencial aprende-se no local de trabalho, pois o mais importante é a capacidade do “indivíduo” em poder ser um bom profissional.  
Bem, retiro o que acabo de afirmar, estava nervoso, mas a verdade é que as coisas por cá não estão nada boas! Não  emprego em Moçambique. Até amanha diário.