(Writting my
History, 2014, Capítulo 07)
1996: frequentava a primeira
classe. Era um aluno extraordinariamente excelente, de comportamento exemplar digno
de uma criança humilde consciente da sua delicada condição de vida, e por tanto
disposto a lutar por um futuro brilhante tanto para si como para sua família.
Minha escola distava
cerca de um quilómetro e meio da minha moradia, ao que caminhar diariamente
para lá já era um sacrifício, pelo que tinha valorizar aquele esforço, sendo a
melhor forma, estudar muito. E eu o fazia com todo prazer, tinha sido se
tornado uma paixão.
Por aquelas alturas, as
turmas escolares eram bastante heterogéneas a nível social e etário. Era comum
ir a escola, descalço. As vezes não o faziam por falta de calçado, mas por
simples desejo de ser igual aos outros meninos que o faziam realmente por
falta.
“Naquele tempo” o chefe
de turma era indicado após provar ser capaz de manter ordem a nível dos seus
colegas, e geralmente era a pessoa mais velha e de quo eficiente de
inteligência também relativamente alto. Nosso chefe de turma possuía essas duas
características, contudo lhe faltava espírito de liderança. Era bastante humilde
e sem pujança suficiente garantir ordem tal como se esperava.
Não sei porque, a
professora me tinha indicado chefe de higiene. Trabalhava com afinco e prazer
no cargo indicado. Entretanto, a actuação do nosso chefe de turma não
satisfazia a ansiedade da nossa professora. E ao nível da turma, havia um
menino embora pequeno, bastante activo e dedicado. E na sequência de uma das
suas participações brilhantes na aula, a professora visando aliviar-se da sua
aflição em relação a postura do então chefe, decidiu indicar o então petiz
activo. E o menino em causa chamava-se Jorge
Ofice.
Uma das obrigações do
chefe era chamar atenção a turma tanto na chegada como na saída da professora,
por meio de um grito de saudação ou de despedida conforme a ocasião. A minha
função como chefe teria começado no decorrer da aula.
Terminada a aula naquele
mesmo dia, todos olhavam ansiosamente para mim, esperando pelo grito de
despedida a senhora professora. Não sei ao certo o que teria acontecido (não me
lembro) apenas sei que gaguejei. O grito era mais ou menos assim: “Atenção a
despedida da senhora professora…”.
Mas não consegui dizer
aquilo. Estava nervoso e por isso apenas gaguejei. E para minha infelicidade,
fui destituído do cargo imediatamente. Meus colegas próximos soltavam gargalhadas
que em poucos instantes despiram minha dignidade. Senti me profundamente
humilhado. A caminhada para casa, a perguntava que não se calava. O que teria
dito de errado?
Hoje ainda me questiono,
será que não estava realmente preparado para ocupar o cargo de chefe de turma,
ou não estava suficientemente preparado para naquele instante fazer o grito
tanto esperado?
Realmente não sei dizer.
Talvez minha professora pudesse responder. Contudo, tão cedo ela nos abandonou,
após perder a vida, vítima de doença, naquele mesmo ano. Não guardo rancor
contra ela, alias era uma óptima mãe escolar, porem sempre que penso na
possibilidade de ser chefe as imagens daquele episodio me inundam a mente. Já
vi altos dirigentes serem destituídos de seus cargos em menos de 30 dias, e se
reduzirem a nada, simplesmente porque não tem noção de ocupar um cargo por
menos de duas horas.
Descanse em Paz querida
Professora Marta.